REFLEXOS DE 22

REFLEXOS DE 22

13 de setembro de 2022 Off Por admin

Detalhes do Evento

Este evento irá acabar em 03 novembro 2022


Contaminação | Reflexos de 22

A exposição apresentará um conjunto de imagens, documentos, textos, vídeos e áudios, mostrando como o modernismo vem sendo construído por sobreposições, colagens, resíduos, fragmentos de diferentes movimentos e referências ao longo do tempo, do arcaico ao popular, da cultura erudita à cultura de massa, do experimental ao pop, numa configuração caleidoscópica e palimpsesta.

O caráter ambivalente e alegórico nos usos de orientações, como: “Só me interessa o que não é meu” de Oswald de Andrade desloca-se até “A pureza é um mito” e “Brasil de diáreia” de Hélio Oiticica que transita por “A geléia geral brasileira” e as “Relíquias do brasil” de Gil e Torquato Neto, que contagia “Da lama ao caos” de Chico Science, como antenas e raízes sempre numa relação dialógica.

A prática da montagem como método de conhecimento e de apreensão da “desordem do mundo” do pós-guerra, buscando reivindicar também a outra herança “vencida” e ainda latente: nossa herança selvagem, ou antropófaga, como dizia o casal Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade [Tarsiwald para os mais íntimos]. Mostrar também como essa nossa herança selvagem, antropófaga, está diretamente relacionada com a herança moderna, apesar das diferenças entre uma experiência ligada a povos por vezes ainda tidos como “exóticos” ou “primitivos”, no caso da herança selvagem, e uma experiência mais eurocêntrica, dita “civilizada”, no caso da herança moderna – mas que, também teve incursões em outras culturas não europeias, mostrar que essa forma de pensar moderna crítica, que já questionava uma ideia de progresso inelutável, o tecnicismo, os excessos funcionalistas e racionalistas, o formalismo e, sobretudo, o purismo, é também profundamente tributária dessa outra forma de pensar, que Claude Lévi-Strauss, após sua experiência brasileira [entre 1935 e 1939], ou melhor, sua experiência etnográfica entre os ameríndios, denominou de “pensamento selvagem”.

Tanto a ideia de “espaço de pensamento” de Aby Warburg, quanto a proposta de “máquina pensantes” de Patrick Geddes – ambas bem próximas da ideia de “imagens de pensamento” de Walter Benjamin -, que estão na base de todas as montagens das vanguardas modernas, podem ser relacionadas com essa ideia lévi-straussiana, de “pensamento selvagem” e ao manifesto antropofágico oswaldiano.

Desse modo fica claro como o Surrealismo, o Expressionismo e o Cubismo se misturaram ao ideário de 22 e nos movimentos Pau Brasil e Antropofágico, e esses, na arquitetura modernista de Greogori Warchavchik, Flávio de Carvalho e mais tarde em Lina Bo Bardi, na música nova, na literatura, na poesia concreta, no cinema novo, na tropicália, no teatro experimental, no desbunde e na curtição -, desde “A alegria é a prova dos nove” de Oswald à “Eu só faço o que eu quero” de Jards Macalé -, na contracultura e na poesia marginal, no underground, na vanguarda paulistana e o que veio depois, com o projeto Abravana e outros coletivos já nos anos 2.000.

Em que medida esses deslocamentos, apropriações, sobreposições e transfigurações mantém elementos do sentido original? E em que medida se contrapõe aos sentidos antigos?

A exposição será conceituada por aproximações e afinidades como no Atlas Mnemosyne de Aby Warburg, num grande painel de sutilezas e vizinhanças, revelando o sentido da impureza na práxis moderna, possibilitando a inserção de novas camadas durante o período expositivo, sendo portanto, uma exposição mutante.

Reinaldo Botelho
Curador
Fevereiro-setembro de 2022