ARCANAS
ARCANAS
O que estará o destino tramando para cada um de nós? Que tempo é esse? Temos uma caminhada pré-determinada? Em muitos momentos da vida essas perguntas simples se apresentam como alternativas, pontos de partida diante do mistério cotidiano.
O destino trama ou nos apresenta as cartas de todas as possibilidades?
Livre arbítrio gestando humanidade? Somos tecidos pelo entorno? Tecemos a nós próprios, fios em uma infinita Fita de Moebius, dentro e fora, atemporal, relação em moto-perpétuo?
Ou nos deixamos acarinhar em trança de quatro pontas, aceitando a rosa dos ventos, laços de sangue, mais que uma direção, uma epifania que acalma o coração?
Estamos nós, diante dos fios Bruna Marassato e Joice Trujillo. Nas cartas do Tarô, encontramos Bruna–Sacerdotisa e Joice–Imperatriz – sabedoria, abundância, fertilidade, nutrição da alma e do corpo, Mãe Terra, cuidado consigo mesmo e com o outro, assuntos secretos (…). Sim, embaralhei alguns significados das duas cartas e estando em uma exposição de arte, e por isso mesmo, escolhi não trazer os períodos, movimentos e as vertentes da arte. Escolhi convidar você, de maneira livre, a tirar as cartas para a experiência maior do sentir, o perceber sinais, pistas em cada linha, mancha, cor, textura, suporte, cada sensação gerada a partir de um olhar minucioso, o de estar diante das artistas pela primeira vez, tentando desvendar os mistérios de cada uma. O que foi revelado? Obras individuais e obras em coautoria, duas amigas celebrando a vida, parindo sutilezas e ao mesmo tempo renascendo. Parto normal? Útero medieval, contrações cubistas? Patchwork quântico?
Sofisticação gráfica, volumes e somas de materiais revelando um amadurecimento precoce em um diálogo corajoso. A beleza é que a jornada apenas começou.
Finalizo emprestando a poesia maravilhosa de duas poetas, para costurar o que vi como fio condutor de Bruna e Joice.
Colcha Coralina? Cora, escreveu: “Sou feita de retalhos.
Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma.
Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou.
Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior. (…) E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de nós”.
Margarete Schiavinatto concluiu em “antepassados:
moram em mim
velhas senhoras
laço
entrelaço
teço a trama
de uma história sem fim
moram em mim
velhas senhoras”
Sugestão com liberdade poética: o exercício é trocar as cartas, os sinais visíveis, misturar-se ao desconhecido, perceber-se na Casa do Olhar sem nomear, apenas sentir a trama apresentada em cada trabalho, assim, primeiro mergulhar na exposição até o final, parar diante de cada obra sem ler as etiquetas com nome, dimensões e técnica utilizada. Tentar descobrir quem é Bruna e quem é Joice. Enxergá-las por inteiro, fazer a roda da conversa interior girar.
No segundo movimento, rever as obras, ler as etiquetas e pensar – Como posso me expressar através da arte? O quanto sou transparente? Me identifiquei mais com quais trabalhos? Renasci?
João Alberto Tessarini
publicitário da área de criação e artista visual