O setor de saúde compreende um segmento bastante amplo da atividade econômica, inserido dentro do grande setor de serviços. Ademais, seu funcionamento
está atrelado a importantes setores industriais, especialmente ao farmoquímico e de equipamentos médicos, ambos de média-alta e alta intensidades tecnológicas.
Além disso, o setor de saúde constitui um importante empregador de trabalhadores com diferentes níveis de qualificação, desde aqueles voltados à
realização de tarefas de apoio ao bom funcionamento dos equipamentos de saúde, como profissionais de elevada qualificação.
A título de comparação, nos EUA os gastos em saúde representam 16,6% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo estudos da The Commonwealth Fund. Este
percentual é 5% a mais que a Suíça, segundo colocado no ranking de despesas com saúde em relação ao tamanho da economia (PIB).
No Brasil, segundo o estudo Conta Satélite de Saúde, realizado pelo IBGE, em 2019 as despesas com saúde chegaram a 9,6% do PIB, incluindo as despesas do
governo, das famílias e de instituições sem fins lucrativos. A composição desta engloba principalmente despesas com os serviços médico-hospitalares, despesas laboratoriais, planos de saúde privados, medicamentos, entre outros. Segundo o IBGE, em 2010 estas despesas correspondiam a 8% do PIB.
Os dados das contas nacionais, divididos pela Classificação Nacional de Atividades, apontam que, especificamente o segmento de saúde e serviços sociais
ampliou sua participação no PIB de aproximadamente 3,9% do Valor Adicionado Bruto da economia para próximo de 5%, entre os primeiros e os últimos anos da década de 2010, segundo o Sistema de Contas Nacionais do IBGE.
Os dados da Relação Anual e Informações Sociais (RAIS) de 2021 apontam que as atividades ligadas à saúde empregaram mais de 2,5 milhões de trabalhadores no mercado formal do Brasil, correspondente a pouco mais de 5,2% de empregos formais na economia e 4,86% da remuneração paga. Com relação ao número de
estabelecimentos, as atividades ligadas à saúde representam cerca de 5,5% do total, considerando tanto as empresas (CNPJ) com declaração da RAIS negativa e não negativa.
No Estado de São Paulo, os empregos formais no setor correspondem a cerca de 5,9% do total e a 5,5% da remuneração paga. No Grande ABC, estas proporções se elevam para 6,7% e 6,9%, respectivamente, o que pode ser explicado por se tratar de uma região metropolitana com maior densidade populacional e maior concentração espacial da demanda por serviços de saúde.
Contudo, esta proporção não é homogênea entre os municípios da região. A maior contração é no município de Santo André, onde os empregos formais no setor correspondem a cerca de 8,9% do total e a 10,5% da remuneração paga, o que corresponde a mais de 35% do setor no Grande ABC. Juntamente com São Bernardo do Campo, concentra mais de 75% do setor de saúde na região do GABC.
Contudo, a figura anterior demonstra que os vínculos de emprego no segmento de saúde se distribuem de forma heterogênea ao longo do território. Primeiramente, se identifica uma concentração ao longo do eixo formado pelas vias D. Pedro II e a Av. Pereira Barreto, especialmente entre os Bairros Jardim e Paraíso. A facilidade de acesso por estas vias, somado aos modais de transporte público ajudam a explicar esta concentração capaz de atender o público de outros municípios vizinhos.
Outro ponto de concentração está na Vila Príncipe de Gales, motivada pela presença do Centro Universitário Medicina do ABC, que mantém o curso mais antigo
de Medicina na região, autorizado no ano de 1969. O campus também abriga alguns ambulatórios de especialidades médicas, estruturas voltadas ao ensino, além de manter convênio e operar diversos outros equipamentos de saúde, o que explica a concentração de profissionais do setor na região, destacada no mapa anterior.
O mesmo padrão distributivo espacial se observa ao detalhar o setor de saúde por segmento de atividade dos estabelecimentos. Ao longo do eixo das vias D. Pedro II e Av. Pereira Barreto, se observa forte concentração dos serviços de atendimento ambulatorial (grupo CNAE 863 – Atividades de atenção ambulatorial executada por médicos e odontólogo); das clínicas especializadas e serviços laboratoriais e exames (864 – Atividades de serviços de complementação diagnóstica e terapêutica), e das atividades de assistência no segmento de saúde, como as clínicas de repouso entre outras (grupo CNAE 865 – Atividades de profissionais da área de saúde, exceto médicos e odontólogos).
Além da dimensão do setor de saúde no município, responsável por mais de 10% da massa de salários pagos no mercado formal de trabalho local, a concentração regional frente aos municípios vizinhos e a diversidade dos estabelecimentos trazem uma percepção mais ampla e clara da importância do “cluster” setorial instalado na economia municipal.
Agrega-se a este a evolução observada no esforço de geração de conhecimento no setor de saúde na região. A Faculdade de Medicina do ABC tem ampliado seus programas de pesquisa e de formação de quadros profissionais de elevado nível técnico, com cursos de pós-graduação Strictu Sensu. A Universidade Federal do ABC desenvolve o curso inovador de Engenharia Biomédica, cujo foco central é interligar a geração de inovação em setores ligados à tecnologia voltada à área de saúde, também contemplado com aperfeiçoamento em curso de pós-graduação Strictu Sensu. Conforme apontado anteriormente, as operações do setor de saúde são amplamente dependentes de setores de média-alta e alta intensidades tecnológica.
O serviço público de saúde é uma das prioridades de ação do governo municipal. Apenas no ano de 2022, o total empenhado foi de mais de R$ 750 milhões.
Juntamente com a educação, é a função que mais absorve esforços municipais.
A Secretaria Municipal de Saúde de Santo André contempla em sua estrutura de atendimento direto ao público dois hospitais, 34 unidades básicas de saúde (UBS), seis Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e um Pronto Atendimento (PA). A estes se somam o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e serviços especializados, tais como os centros médicos de especialidades, como o de saúde mental, odontológico e centro especializado em reabilitação. Complementam a estrutura da Secretaria de Municipal de Saúde o Departamento de Vigilância à Saúde, bem como as áreas administrativas.
Desde 2017, o Programa QualiSaúde promoveu a melhoria estrutural do serviços no setor, com a revitalização de 29 equipamentos e implantação de duas
novas UBS no Jardim Alzira Franco e Cruzado. O QualiSaúde também tem fortalecido o serviço de saúde municipal por meio da implantação de programas de qualidade com a padronização dos equipamentos de saúde e processos de trabalho.
No período mais crítico da pandemia do coronavírus, a Secretaria Municipal de Saúde implantou três Hospitais de Campanha (no Estádio Bruno Daniel, no Ginásio Pedro Dell”Antonia e na Universidade Federal do ABC), além da implantação de 132 leitos adultos de UTI no Centro Hospitalar Municipal.
Entre 2017 e 2022 (até o mês de novembro), a média anual de procedimentos realizados no serviço público municipal foi de 8,3 milhões e mais 26,5 mil internações, o que demonstra a grandeza do serviço público municipal de saúde em Santo André.
TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS E DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NA SAÚDE
A pandemia de covid-19 alterou e acelerou o processo de transformação digital em todos os segmentos da economia. Com as atividades da saúde não foi diferente e a transformação digital chegou de vez, promovendo mudanças radicais que impactam tanto a esfera pública como a privada.
Saúde digital, Inteligência Artificial, Internet das Coisas, pacientes e clientes mais exigentes, novas competências e necessidades desafiando as práticas dos
profissionais constituem tecnologias e novos contextos que têm invadido o mercado de saúde e também desafiado os serviços públicos de saúde, influenciando como um todo as tendências do setor nos próximos anos.
No sentido de apontar algumas destas tendências e motores de transformação na saúde, este documento apresenta algumas conclusões compartilhadas por
organizações, empresas e instituições envolvidas com os desafios deste setor.
Assim, em recente estudo produzido pela Capgemini – multinacional francesa que está entre os maiores fornecedores de serviços de consultoria, tecnologia e
outsourcing do mundo – PRINCIPAIS TENDÊNCIAS EM SAÚDE: 2022 é oferecida uma visão geral das principais tendências em assistência médica, moldadas por avanços tecnológicos, demandas por maior qualidade e personificação dos serviços de saúde, mudanças demográficas e de perfil epidemiológico, entre outras mudanças nas regulamentações, saúde digital e atendimento remoto.
O relatório apresenta 10 tendências, distribuídas em quatro pilares, que devem guiar os players do setor rumo a uma “digitalização humanizada”, que preconiza foco no paciente, eficiência e agilidade, interoperabilidade e cooperação. Os pilares sobre os quais se assentam as mudanças são (1) Foco no Cliente, (2) Empresas Inteligentes, (3) Resiliência de Negócios e (4) Colaboração em Escala. Complementarmente, em torno destes quatro pilares, é possível observar visões convergentes provenientes de players globais do setor, indicando especificamente tecnologias e drivers da mudança.
Os quatro pilares e tendências selecionadas são:
1 Foco no Cliente
1.1 – A covid-19 acelerou a saúde digital para uma experiência integral do paciente em todas as jornadas de cuidados. A abordagem de saúde digital para experiências integradas de assistência médica oferece uma combinação de modelos de prestação de cuidados físicos/presenciais e digitais.
1.2 – Atendimento personalizado e centrado no paciente e uma experiência de compra melhor vão ampliar o engajamento do paciente. A maior participação dos
pacientes em suas jornadas de saúde está impulsionando a personalização das intervenções de cuidados e o foco na saúde geral da população.
1.3 – O setor de saúde agora está focado na saúde integrada, por intermédio de uma abordagem total do paciente e do entendimento dos determinantes sociais da saúde. O espectro de cuidados mudou e agora as intervenções consideram a história holística do paciente, incluindo eventos passados e presentes e determinantes sociais da saúde. A tecnologia está desempenhando um papel significativo ao disponibilizar o registro longitudinal do paciente para os cuidadores.
2. Empresas Inteligentes
2.1. Os dados de saúde em tempo real e a Internet das Coisas Médicas (IOMT) estão impulsionando a agilidade na gestão médica. Para a tomada de decisões clínicas em tempo real, análises preditivas alimentadas por IA e big data suportam alertas médicos em tempo real. Usando análises preditivas alimentadas por IA para adaptar o tratamento e identificar com eficiência pacientes em risco, os provedores que incentivam os pacientes a adotar estilos de vida mais saudáveis podem reduzir o custo dos cuidados e os riscos à saúde.
2.2. Players não tradicionais, bigtechs e hiperscalers (Amazon AWS, Microsoft Azure, Google GCP, Alibaba AliCloud, IBM, and Oracle) estão transformando a prestação de serviços de saúde. As BigTechs estão explorando o mercado de telessaúde direto ao consumidor para aumentar sua presença no espaço de atendimento virtual. Hiperscalers estendem os recursos de nuvem para permitir que os provedores coordenem e forneçam gerenciamento de atendimento contínuo e criem monitoramento seguro de dados de saúde para pacientes.
2.3. Players do setor da saúde se encontram em uma maratona maciça de modernização e adoção da nuvem. Os players da área da saúde agora estão ampliando os limites da saúde digital e adotando a nuvem, a automação e a inteligência artificial. Perceber o valor da colaboração, interoperabilidade e disponibilidade de dados no ponto de atendimento levou a um aumento de escala e a um ecossistema baseado em tecnologia sob demanda.
3. Resiliência de Negócios
Os players do ecossistema de saúde estão intensificando a adoção de medidas no combate aos riscos de privacidade e segurança. À medida que o setor de saúde utiliza vastos dados para inovar em soluções personalizadas para pacientes e aumentar a eficiência operacional, também enfrenta preocupações de membros e reguladores em relação à segurança de dados, privacidade e uso ético das informações do paciente.
4. Colaboração em Escala
A interoperabilidade continua a superar as inovações no espaço de atendimento médico conectado. Padrões de interoperabilidade permitem que sistemas diferentes se conectem, o que pode melhorar o acesso do paciente e facilitar o atendimento coordenado.
5. O Contexto das mudanças tecnológicas do setor no Brasil
Neste contexto é que se pode compreender o crescimento e desenvolvimento de iniciativas de inovação no Brasil, onde se pode vislumbrar desde a constituição de um ecossistema de healhtechs, por exemplo, às iniciativas de apoio e fomento, com abertura de novas fontes de financiamento público com foco em hard science e deep tech e implantação de HUBs de inovação na saúde.
A Distrito, uma das mais relevantes plataformas de inovação do país, identificou estas tendências, apontando reflexos significativos. A plataforma mapeou
em sua base de dados que o Brasil passou de 248 healthtechs em 2018 para 1.002 em 2021. Além disso, de janeiro até dezembro de 2021, as startups receberam mais de US$ 530 milhões em investimentos, enquanto que em 2020 o volume total de investimentos do ano foi de US$ 127, 8 milhões. A plataforma ainda assinala algumas tendências e evoluções relevantes que devem ser observadas:
5.1. Pacientes mais informados e mais exigentes
Cada vez mais, o público está desejando ter autonomia sobre a própria saúde. Somado a isso, existe a onda de produtos e serviços de saúde em domicílio, seja para cuidados primários, gerenciamento de doenças crônicas ou cuidados paliativos e de longo prazo, e ainda na crescente das comunidades online e sites de comparação (de médicos, hospitais e produtos farmacêuticos). Isso forçou todos os elos da cadeia a se concentrarem ativamente na experiência do cliente (CX), a qual tem se tornado prioridade.
5.1.1 Uso da nuvem no setor da saúde.
Plataformas em nuvem facilitam a interoperabilidade, a integração de dados em todo o sistema de saúde, a aplicação da análise de Big Data e dos algoritmos de
inteligência artificial e a colaboração entre médicos e pacientes, democratizando os dados e promovendo ferramentas para a educação e o envolvimento do paciente.
5.1.2 Ciência de dados e análise preditiva
Ciência de dados e análise preditiva tornaram possível para os profissionais de saúde buscarem insights mais profundos. Informações coletadas dos históricos de
ascendência e família ou obtidos de fontes relativas ao ambiente circundante, em sistemas baseados em IA, podem prover insights poderosos para diagnosticar
problemas mais rapidamente.
5.1.3 Robótica
Os engenheiros de robótica desenvolvem assistentes médicos, roupas de reabilitação e até unidades cirúrgicas. Os robôs também são projetados para serem
capazes de realizar tarefas repetitivas e monótonas, para que a equipe humana possa lidar com questões que exigem habilidades de tomada de decisão, criatividade e, acima de tudo, cuidado e empatia.
5.1.4 Nova fase da telemedicina
A telemedicina teve grande destaque no primeiro ano de pandemia e também em 2021. Médicos e pacientes aprenderam a lidar com essa facilidade que só cresceu nesse período turbulento. A tendência é que a utilização de teleconsultas, principalmente, se estabilize como atividade cotidiana em um caráter complementar.
5.1.5 Inteligência Artificial (IA)
IA é uma coleção de tecnologias avançadas que permite às máquinas descobrirem, compreenderem, raciocinarem, agirem e aprenderem. Além disso, usa
uma variedade de algoritmos e ferramentas para realizar, por exemplo, machine learning (ou ‘aprendizado de máquina’). O desenvolvimento de novas tecnologias, aliado à necessidade de melhorar a precisão dos diagnósticos e tratamentos, está contribuindo para a evolução desse mercado no mundo todo. Só em 2021, foram investidos mais de US$ 41 milhões em startups de inteligência artificial no Brasil.
5.1.6 Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR)
No setor de saúde, as aplicações de AR e VR têm sido utilizadas para tratar doenças físicas e psicológicas. Já vemos ferramentas de reabilitação desenvolvidas
para ajudar pacientes a se recuperar de um derrame e deficiências corporais com o uso óculos de realidade virtual.
5.1.7 Tech e mercado tradicional
Planos de saúde digitais, softwares de gestão e prontuário, além de IA & Big data foram os segmentos que mais receberam aporte de capital de risco no ano de
2021. Atenção primária, serviços para corporações e modelos value-based são alguns dos focos inovadores dessas startups.
5.1.8 LGPD e segurança de dados
A partir de agosto de 2021, a LGPD passou a valer mais vigorosamente para aqueles que não estivessem enquadrados no novo regimento, o que implicou em
adaptações das empresas em diversos setores. Além da adequação dos sistemas à LGPD, outra importante prioridade é a sofisticação da segurança dos dados com a aplicação de tecnologias de ponta.
Já em relatório elaborado pela PwC e a Liga Ventures, a partir dos dados da ferramenta Startup Scanner, que permite monitorar constantemente startups de diversos setores, apresenta-se um retrato do mercado de saúde e os desafios das healthtechs, além de reflexões sobre os novos hábitos, o futuro da saúde e as transformações que a tecnologia, a inovação e a inteligência artificial tendem a oferecer.
O mapa das startups que atuam no mercado de saúde, conforme dados colhidos até março de 2022, mostra que havia 397 startups ativas na base de dados e
sendo monitoradas.
Durante o período analisado, houve um aumento de 32% no número de startups no radar da Startup Scanner, incluindo novas startups nascidas e novas monitoradas, independentemente de estarem ativas ou não.
As startups ativas na base durante o período analisado tiveram um crescimento médio de 21,21% no número de funcionários, representando um total de 3.813 novas vagas abertas durante o período. Além disso, 17,38% das startups tiveram um crescimento no número de funcionários superior a 50%, com base em Análise de acompanhamento do número de funcionários das startups mapeadas no Linkedin, entre março de 2021 e março de 2022.
Da análise dos dados do mapeamento, algumas conclusões são apontadas:
6 Mercado em expansão
O número de healthtechs ativas cresceu nos estados 13,7%, em média, entre o período de 2019 a 2021. São Paulo concentra o maior número dessas empresas
(50,13% do total de startups ativas no setor), mas os estados com maior crescimento relativo em número de startups ativas entre 2019 e 2021 foram Espírito Santo (80%), Pará (50%) e Rio Grande do Norte (50%). Esse fato mostra que os empreendedores estão explorando oportunidades para melhorar a vida dos brasileiros menos assistidos e com acesso reduzido a serviços de saúde.
6.1 Categorias em destaque: analisando as categorias de startups, é perceptível que a de planos e financiamentos foi a que mais se desenvolveu, o que
indica uma tendência do setor de buscar soluções para cuidar da orquestração entre todos os players da saúde. Outro segmento que apresentou desenvolvimento importante foi o de meio de pagamento, que está diretamente ligado a glosas e outras questões que impactam as atividades diárias das organizações. Também tiveram grande investimento e atividade de M&A as categorias de psicologia e bem-estar físico e mental, que registraram maior demanda devido às consequências da pandemia sobre as relações humanas e as emoções dos indivíduos.
6.2 Tecnologia para otimizar a experiência do paciente: A evolução tecnológica também é um fator importante. O maior crescimento foi de plataformas
digitais, seguido por análise preditiva e inteligência artificial, o que revela um foco em melhorar a experiência do paciente. A tecnologia tem papel fundamental nesse processo e também em relação à proteção de dados e à segurança cibernética.
Já com base em dados de dezembro de 2022, se observa que há 571 startups de saúde – healthtechs – na base de dados, de uma base total de 5.576 startups,
distribuídas em 35 categorias e atuando em 112 cidades diferentes.
Conforme o relatório citado anteriormente já assinalava, aparecem em número mais significativo as startups concentradas em atividades com buscadores e
agendamentos (40), bem estar físico e mental (37) e planos e financiamentos (34). Contudo, dentre as 35 categorias também são relevantes numericamente entre as demais aquelas que desenvolvem atividades em:
6.2.1 Infraestrutura para Telemedicina (26): com foco em soluções estruturais que viabilizam e promovem o acesso e oferta de consultas de forma remota;
6.2.2 Novos Medicamentos e Tratamentos (22): foco em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos, tratamentos e aplicação de componentes
com potencial de utilização médica;
6.2.3 Capacitação, Informação e Educação (20): foco em soluções que promovem a disseminação de conteúdos e conhecimento e startups com foco no
processo de educação médica;
6.2.4 Seniortechs (18): foco em soluções tecnológicas com foco voltado para o bem-estar, oferta de serviços e acompanhamento da saúde dos idosos;
6.2.5 Prontuário, Prescrição e Triagem (17): foco em soluções voltadas ao aprimoramento e digitalização de prontuários, prescrições e processos de triagem;
6.2.6 Desenvolvimento de Equipamentos e Dispositivos (16): em soluções voltadas à pesquisa e desenvolvimento de equipamentos e dispositivos com aplicações
no segmento de saúde.
7 TRANSFORMAÇÕES NA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
Conforme já observado, a pandemia de covid-19 alterou e acelerou o processo de transformação digital em todos os segmentos da economia. A transformação digital chegou de vez, promovendo transformações radicais que impactam tanto a esfera pública, como a privada.
A liberação da telemedicina e o uso de IA, a constituição e fortalecimento do Programa Conecte SUS e da Rede Nacional de Dados em Saúde, dispondo sobre a
adoção de padrões de interoperabilidade em saúde no Brasil, são marcas deste movimento na saúde pública, por exemplo, também aceleradas pela pandemia.
Estas iniciativas são parte da Estratégia Nacional de Saúde Digital (ESD). Saúde Digital compreende o uso de recursos de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) para produzir e disponibilizar informações confiáveis sobre o estado de saúde para os cidadãos, profissionais de saúde e gestores públicos. O termo Saúde Digital incorpora os recentes avanços na tecnologia, como novos conceitos, aplicações de redes sociais, Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA), entre outros.
A estratégia nacional de saúde digital está integrada a esforços da Organização Mundial de Saúde para constituição de uma Estratégia Global de Saúde Digital (Global Strategy on Digital Health), com o objetivo de promover a saúde para todos, em todos os lugares. Um aspecto significativo da proposta de Estratégia Global é que ela unifica, sob o termo Saúde Digital, todos os conceitos de aplicação das TICs em Saúde, incluindo e-Saúde, Telemedicina, Telessaúde e Saúde Móvel. Além de reduzir a fragmentação das aplicações da tecnologia em saúde, a Saúde Digital se caracteriza como área de conhecimento e prática, e absorve os conceitos da utilização avançada da tecnologia, incluindo o uso de dispositivos pessoais e de tecnologias emergentes.
Conforme propõe o Pacote de Ferramentas da Estratégia Nacional de e-Saúde (National eHealth Strategy Toolkit), elaborado pela OMS em conjunto com a União
Internacional das Telecomunicações (OMS/UIT) em 2012, a construção da Estratégia de Saúde Digital (ESD) deve ser desenvolvida com o objetivo de utilizar recursos de TIC para resolver problemas do sistema de saúde, tendo o planejamento do sistema de saúde como norte.
Publicado em 2017, a Visão Estratégica apresentada no documento Estratégia e-Saúde para o Brasil, declara que: “até 2020, a e-Saúde estará incorporada ao SUS como uma dimensão fundamental, sendo reconhecida como estratégia de melhoria consistente dos serviços de Saúde por meio da disponibilização e uso de informação abrangente, precisa e segura que agilize e melhore a qualidade da atenção e dos processos de Saúde, nas três esferas de governo e no setor privado, beneficiando pacientes, cidadãos, profissionais, gestores e organizações de saúde”.
O Plano de ação da Estratégia Brasileira de Saúde Digital (ESD) propõe as seguintes prioridades, conforme ilustrado:
Assim, com a missão de materializar a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil, constitui-se o Conecte SUS, como programa do Ministério da Saúde, que visa o apoio à informatização nos diversos pontos da Rede de Atenção à Saúde e a troca de informação entre os estabelecimentos de saúde e os cidadãos. Dois projetos principais integram o Conecte SUS, além de outras iniciativas rumo à transformação digital na saúde pública:
7.1 Rede Nacional de Dados em Saúde – RNDS
A Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) é a plataforma nacional de interoperabilidade (troca de dados) em saúde, instituída pela Portaria GM/MS nº 1.434, de 28 de maio de 2020. A RNDS é um projeto estruturante do Conecte SUS, voltado para a transformação digital da saúde no país. O projeto da RNDS tem o objetivo de permitir que os estabelecimentos assistenciais de saúde, públicos e privados, os profissionais de saúde e os cidadãos compartilhem informações de saúde, promovendo a prevenção, promoção e o atendimento de saúde com mais qualidade. Além disso, ele visa dispor da continuidade do cuidado em diferentes níveis de atenção.
Pela visão estratégica definida para a RNDS, “até 2028 a RNDS estará estabelecida e reconhecida como a plataforma digital de inovação, informação e
serviços de saúde para todo o Brasil, em benefício de usuários, cidadãos, pacientes, comunidades, gestores, profissionais e organizações de saúde”.
7.2 Programa de Apoio à Informatização e Qualificação dos Dados da Atenção Primária à Saúde.
O Informatiza APS faz parte da estratégia de saúde digital do Ministério da Saúde, o Conecte SUS. O programa visa apoiar a informatização das unidades de saúde e a qualificação dos dados da Atenção Primária à Saúde de todo o país. O investimento na tecnologia da informação visa subsidiar a gestão dos serviços de saúde e a melhoria da clínica.
8 Outras iniciativas
A implementação da estratégia de saúde digital e do programa Conecte SUS também tem produzido um conjunto de soluções e serviços para o cidadão e os
profissionais de saúde, como, por exemplo, aplicativos mobile:
Os aplicativos desenvolvidos e disponíveis abrangem uma vasta gama de temas, tais como, entre tantos:
InvestSus – para acompanhamento e controle das propostas e repasses financeiros realizados pelo Fundo Nacional de Saúde;
Diário da Gravidez – Plataforma digital para acompanhar e registrar todas as fases da gravidez da mulher;
Meu digiSUS – plataforma móvel de serviços digitais oficial do Ministério da Saúde. Disponibiliza para o usuário informações pessoais e clínicas contidas no
Cadastro Nacional de Usuário do Sistema Único de Saúde (CADSUS), Portal do Cidadão, Corporativo e Cadastro nacional de estabelecimento de Saúde (CNES);
e-Vee – Aplicativo móvel multiplataforma que possibilita aos agentes de saúde para que atuem no trabalho de prevenção do Aedes aegypti;
Horus – Permite ao cidadão acompanhar a dispensação de medicamentos. Permite que os cidadãos tenham acesso a informações sobre o histórico de
medicamentos recebidos e os próximos a serem retirados nas unidades do Programa Farmácia Popular e unidades de saúde do SUS.
9 Iniciativas em Santo André e Grande ABC
Na região do ABC, durante o período da pandemia também se intensificaram esforços na implementação de soluções deste tipo, com a aceleração da transformação digital na saúde pela implementação de plataformas de telemedicina e aplicativos móbile, por exemplo.
É o caso da Ferramenta COVIData, um aplicativo desenvolvido na Universidade Federal do ABC (UFABC), para acompanhamento da covid-19 nas sete cidades da região. O COVIData foi idealizado com o objetivo de otimizar o processo de triagem dos casos de covid-19. Por meio de um questionário disponível no aplicativo, foi possível coletar informações como sintomas de saúde do cidadão e sua localização, entre outras, para a análise doença na região. Adicionalmente, o cadastro na plataforma permitia o monitoramento continuado dos pacientes. Desta forma, a ferramenta permitiu realizar um monitoramento da localização geográfica da dispersão de casos na região, possibilitando identificar os locais com maior concentração de casos nas sete cidades, e assim antecipar ações e otimizar o uso dos recursos de saúde, especialmente os hospitalares.
Outras ferramentas tecnológicas também apoiaram o enfrentamento da pandemia e a mitigação de seus impactos junto à população.
Em Santo André, por exemplo, a Secretaria Municipal de Saúde implantou Centrais de Visita Virtual nos hospitais de campanha. A ação foi mais uma iniciativa de humanização do atendimento, possibilitando a familiares que não têm acesso à internet conversarem com os pacientes internados por meio de videochamada.
A ‘Central de Visitas Virtuais’ foi um projeto pioneiro, implementado junto à Prefeitura de Santo André pela Tec Mobile Brasil, empresa especializada em Hardware as a Service, localizada em Santo André. O projeto se tornou referência para as cidades do Brasil, ganhando destaque também na mídia internacional.
Vale destacar também o uso de plataformas desenvolvidas para monitoramento do isolamento social na pandemia. Com o objetivo de melhorar a tomada de decisões, para que as medidas de combate a pandemia tomadas pela administração fossem cada vez mais assertivas, a Prefeitura de Santo André realizou duas parcerias para medir o índice de isolamento social na cidade. Os indicadores apresentados em uma plataforma digital auxiliaram a administração na definição de ações de combate ao coronavírus e na avaliação sobre o cumprimento das regras da quarentena.
Uma das parcerias foi firmada com a ABR Telecom (Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações), que tem entre suas associadas operadoras como Tim, Vivo, Claro e Oi, e permitiu analisar informações sobre o deslocamento de celulares, formando uma compilação de dados que permitiu medir o isolamento da população.
A segunda parceria foi realizada com a startup In Loco. A startup oferece soluções de autenticação e publicidade mobile baseadas na privacidade dos usuários.
A In Loco utilizou os dados agregados de localização de mais de 60 milhões de dispositivos móveis para mapear índices de isolamento social em diversas cidades e regiões do Brasil. Com base em dados anonimizados gerados por mais de 100 aplicativos de delivery, varejo e bancos, por exemplo, a startup criava “mapas” de
isolamento, monitorando os deslocamentos. A plataforma da In Loco recebe informações de localização para fins de segurança e combate a fraudes.
A tecnologia ainda foi uma aliada da Prefeitura de Santo André no combate ao novo coronavírus também por meio de outras ferramentas. O município disponibilizou para download o aplicativo Qualisaúde Santo André, onde o munícipe informava sobre sintomas, recebia orientações sobre como se proteger do vírus e como proceder em caso de suspeita de contaminação.
Desenvolvido sem custo para a prefeitura de Santo André pela Eicon, empresa fornecedora de sistemas para a administração municipal, o app Qualisaúde utilizava inteligência artificial e telemedicina para classificação, pré-atendimento, identificação e mapeamento em tempo real de casos suspeitos. O georreferenciamento presente na solução informava, em tempo real, para uma central de inteligência e monitoramento ligada às secretarias de saúde e órgãos de controle, o local e a identidade dos casos suspeitos, traçando um mapa de calor das ocorrências. A estratégia possibilitou a elaboração de planos de contingência e a preparação da rede.
Já em São Caetano do Sul, parceria da Prefeitura com a USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) projetou a implantação de sistema integrado de
telemedicina por imagem na rede municipal, mediante a aquisição de consoles de telemedicina, equipados com câmeras de alta resolução, otoscopia, dermatoscopia, telerradiologia, estetoscopia digital e outros aparelhos de diagnóstico por imagem.
Agora, no âmbito do contrato gerenciado pela Fundação do ABC, desde que o Núcleo Municipal de Telemedicina foi implantado no segundo semestre de 2022, já foram realizados milhares de atendimentos e mais evoluções nos serviços da Telemedicina deverão ser implementados, por meio de tecnologia que possibilita
exames físicos à distância e melhor monitoramento dos pacientes. Novos dispositivos estão sendo integrados ao programa, permitindo coletar exames de forma remota, auxiliando no diagnóstico dos médicos que atendem à distância.
9.1 Olhando para frente
Por todas as tendências e indicadores assinalados para o setor privado, tanto considerando o relatório da Capgemini, quanto os dados da Distrito ou da Liga
Ventures, percebe-se que a presença de startups de saúde cresce em todo o território nacional e é um exemplo claro da importância desse novo tipo de empresa. Estando em constante evolução e crescimento, o setor de saúde apresenta diversas oportunidades de desenvolvimento tecnológico com foco em inovação. A evolução deste segmento tende a ser cada vez mais fundamental e cada vez mais marcante, para transformar a qualidade dos serviços de saúde e melhorar a vida dos pacientes.
Do ponto de vista da saúde pública, adicionalmente ao apontado no início deste boletim, e fortalecendo os dados sobre o contexto brasileiro e os grandes
desafios a superar, recente publicação da FAPESP informa que “em 2021, as despesas do governo brasileiro com saúde corresponderam a 3,93% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, enquanto Estados Unidos, Alemanha e França, por exemplo, realizaram gastos de 15,95%, 11,02% e 10,34% de seus PIBs, respectivamente (Our World in Data, 2022)”. Por outro lado, “as despesas das famílias com saúde no Brasil, em 2019, também estão na contramão quando comparadas às de outros países da OCDE. O Brasil (famílias) gastou 5,8% de seu PIB, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a média despendida pelos membros da OCDE foi de 2,3%. Esses dados mostram que a população brasileira está mal atendida pela saúde pública, o que a leva a mais despesas com medicamentos e serviços na rede particular”. Estas distorções foram ainda mais acentuadas pela pandemia de covid19.
A mesma publicação da aponta que a falta de articulação e de uma agenda de Estado tem limitado o alcance das políticas públicas, econômicas e de saúde no Brasil. As questões relacionadas à saúde cresceram em relevância e a população brasileira parece reconhecer hoje, mais do que nunca, em razão da pandemia do covid-19, que os investimentos em ciência e tecnologia são indispensáveis à promoção, recuperação e conservação da saúde da população.
Neste sentido, em 2018, o Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit), da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde (SCTIE), em conjunto com as demais áreas técnicas do Ministério da Saúde (MS), elaborou a Agenda de Prioridades de Pesquisa do Ministério da Saúde. Com 172 linhas de pesquisa, distribuídas em 14 eixos temáticos, o documento buscou alinhar as prioridades de saúde com as atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, para direcionar os investimentos em temas de pesquisas estratégicos para o SUS.
Em sua maioria, os eixos temáticos atendem às questões e necessidades imediatas, sem atenção às demandas decorrentes do desenvolvimento atual e futuro
da ciência. Cabe às agências e fundações de fomento à pesquisa reservarem um olhar profundo para as necessidades do sistema público em relação às inovações e aos avanços científicos em saúde. “É preciso criar agenda de temas de pesquisa que preencha as lacunas atuais e, ao mesmo tempo, fortaleça a competitividade do país, para que este atenda às demandas e aos desafios futuros” . E para tornar efetivo e acelerar o acesso a essas tecnologias, ainda é necessário também promover o acesso a estruturas de pesquisa clínica, a ambientes de fabricação piloto certificados em BPF (Boas Práticas de Fabricação) e ao suporte regulatório, visto que até mesmo softwares com aplicação terapêutica e voltados à área médica serão objeto de aprovação junto à Anvisa.
Entre outras questões, torna-se evidente que o investimento em ciência, tecnologia e inovação é indispensável para a qualidade dos serviços e a preservação da
saúde da população, sendo imperativo que se destinem os esforços necessários ao desenvolvimento de inovação e ao impulso à transformação digital, não só na saúde pública, como também no setor privado. Isto implica, inclusive, a necessidade de contemplar o fortalecimento das estruturas de suporte ao empreendedorismo e tecnologias voltadas à saúde.
Assim, “A pesquisa científica, tecnológica e inovadora em saúde é essencial à inclusão de novos conhecimentos e tecnologias para o fortalecimento do SUS”, e a promoção do acesso aos serviços de saúde pela população.
Agrega-se a este a evolução observada no esforço de geração de conhecimento no setor de saúde na região. A Faculdade de Medicina do ABC tem ampliado seus programas de pesquisa e de formação de quadros profissionais de elevado nível técnico, com cursos de pós-graduação Strictu Sensu. A Universidade Federal do ABC desenvolve o curso inovador de Engenharia Biomédica, cujo foco central é interligar a geração de inovação em setores ligados à tecnologia voltada à área de saúde, também contemplado com aperfeiçoamento em curso de pós-graduação Strictu Sensu. Conforme apontado anteriormente, as operações do setor de saúde são amplamente dependentes de setores de média-alta e alta intensidades tecnológica.
O serviço público de saúde é uma das prioridades de ação do governo municipal. Apenas no ano de 2022, o total empenhado foi de mais de R$ 750 milhões.
Juntamente com a educação, é a função que mais absorve esforços municipais.
A Secretaria Municipal de Saúde de Santo André contempla em sua estrutura de atendimento direto ao público dois hospitais, 34 unidades básicas de saúde (UBS), seis Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e um Pronto Atendimento (PA). A estes se somam o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e serviços especializados, tais como os centros médicos de especialidades, como o de saúde mental, odontológico e centro especializado em reabilitação. Complementam a estrutura da Secretaria de Municipal de Saúde o Departamento de Vigilância à Saúde, bem como as áreas administrativas.
Desde 2017, o Programa QualiSaúde promoveu a melhoria estrutural do serviços no setor, com a revitalização de 29 equipamentos e implantação de duas
novas UBS no Jardim Alzira Franco e Cruzado. O QualiSaúde também tem fortalecido o serviço de saúde municipal por meio da implantação de programas de qualidade com a padronização dos equipamentos de saúde e processos de trabalho.
No período mais crítico da pandemia do coronavírus, a Secretaria Municipal de Saúde implantou três Hospitais de Campanha (no Estádio Bruno Daniel, no Ginásio Pedro Dell”Antonia e na Universidade Federal do ABC), além da implantação de 132 leitos adultos de UTI no Centro Hospitalar Municipal.
Entre 2017 e 2022 (até o mês de novembro), a média anual de procedimentos realizados no serviço público municipal foi de 8,3 milhões e mais 26,5 mil internações, o que demonstra a grandeza do serviço público municipal de saúde em Santo André.
TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS E DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NA SAÚDE
A pandemia de covid-19 alterou e acelerou o processo de transformação digital em todos os segmentos da economia. Com as atividades da saúde não foi diferente e a transformação digital chegou de vez, promovendo mudanças radicais que impactam tanto a esfera pública como a privada.
Saúde digital, Inteligência Artificial, Internet das Coisas, pacientes e clientes mais exigentes, novas competências e necessidades desafiando as práticas dos
profissionais constituem tecnologias e novos contextos que têm invadido o mercado de saúde e também desafiado os serviços públicos de saúde, influenciando como um todo as tendências do setor nos próximos anos.
No sentido de apontar algumas destas tendências e motores de transformação na saúde, este documento apresenta algumas conclusões compartilhadas por
organizações, empresas e instituições envolvidas com os desafios deste setor.
Assim, em recente estudo produzido pela Capgemini – multinacional francesa que está entre os maiores fornecedores de serviços de consultoria, tecnologia e
outsourcing do mundo – PRINCIPAIS TENDÊNCIAS EM SAÚDE: 2022 é oferecida uma visão geral das principais tendências em assistência médica, moldadas por avanços tecnológicos, demandas por maior qualidade e personificação dos serviços de saúde, mudanças demográficas e de perfil epidemiológico, entre outras mudanças nas regulamentações, saúde digital e atendimento remoto.
O relatório apresenta 10 tendências, distribuídas em quatro pilares, que devem guiar os players do setor rumo a uma “digitalização humanizada”, que preconiza foco no paciente, eficiência e agilidade, interoperabilidade e cooperação. Os pilares sobre os quais se assentam as mudanças são (1) Foco no Cliente, (2) Empresas Inteligentes, (3) Resiliência de Negócios e (4) Colaboração em Escala. Complementarmente, em torno destes quatro pilares, é possível observar visões convergentes provenientes de players globais do setor, indicando especificamente tecnologias e drivers da mudança.
Os quatro pilares e tendências selecionadas são:
1 Foco no Cliente
1.1 – A covid-19 acelerou a saúde digital para uma experiência integral do paciente em todas as jornadas de cuidados. A abordagem de saúde digital para experiências integradas de assistência médica oferece uma combinação de modelos de prestação de cuidados físicos/presenciais e digitais.
1.2 – Atendimento personalizado e centrado no paciente e uma experiência de compra melhor vão ampliar o engajamento do paciente. A maior participação dos
pacientes em suas jornadas de saúde está impulsionando a personalização das intervenções de cuidados e o foco na saúde geral da população.
1.3 – O setor de saúde agora está focado na saúde integrada, por intermédio de uma abordagem total do paciente e do entendimento dos determinantes sociais da
saúde. O espectro de cuidados mudou e agora as intervenções consideram a história holística do paciente, incluindo eventos passados e presentes e determinantes sociais da saúde. A tecnologia está desempenhando um papel significativo ao disponibilizar o registro longitudinal do paciente para os cuidadores.
2. Empresas Inteligentes
2.1. Os dados de saúde em tempo real e a Internet das Coisas Médicas (IOMT) estão impulsionando a agilidade na gestão médica. Para a tomada de decisões clínicas em tempo real, análises preditivas alimentadas por IA e big data suportam alertas médicos em tempo real. Usando análises preditivas alimentadas por IA para adaptar o tratamento e identificar com eficiência pacientes em risco, os provedores que incentivam os pacientes a adotar estilos de vida mais saudáveis podem reduzir o custo dos cuidados e os riscos à saúde.
2.2. Players não tradicionais, bigtechs e hiperscalers (Amazon AWS, Microsoft Azure, Google GCP, Alibaba AliCloud, IBM, and Oracle) estão transformando a prestação de serviços de saúde. As BigTechs estão explorando o mercado de telessaúde direto ao consumidor para aumentar sua presença no espaço de atendimento virtual. Hiperscalers estendem os recursos de nuvem para permitir que os provedores coordenem e forneçam gerenciamento de atendimento contínuo e criem monitoramento seguro de dados de saúde para pacientes.
2.3. Players do setor da saúde se encontram em uma maratona maciça de modernização e adoção da nuvem. Os players da área da saúde agora estão ampliando
os limites da saúde digital e adotando a nuvem, a automação e a inteligência artificial. Perceber o valor da colaboração, interoperabilidade e disponibilidade de dados no ponto de atendimento levou a um aumento de escala e a um ecossistema baseado em tecnologia sob demanda.
3. Resiliência de Negócios
Os players do ecossistema de saúde estão intensificando a adoção de medidas no combate aos riscos de privacidade e segurança. À medida que o setor de saúde
utiliza vastos dados para inovar em soluções personalizadas para pacientes e aumentar a eficiência operacional, também enfrenta preocupações de membros e reguladores em relação à segurança de dados, privacidade e uso ético das informações do paciente.
4. Colaboração em Escala
A interoperabilidade continua a superar as inovações no espaço de atendimento médico conectado. Padrões de interoperabilidade permitem que sistemas diferentes se conectem, o que pode melhorar o acesso do paciente e facilitar o atendimento coordenado.
5 O Contexto das mudanças tecnológicas do setor no Brasil
Neste contexto é que se pode compreender o crescimento e desenvolvimento de iniciativas de inovação no Brasil, onde se pode vislumbrar desde a constituição de
um ecossistema de healhtechs, por exemplo, às iniciativas de apoio e fomento, com abertura de novas fontes de financiamento público com foco em hard science e deep tech e implantação de HUBs de inovação na saúde.
A Distrito, uma das mais relevantes plataformas de inovação do país, identificou estas tendências, apontando reflexos significativos. A plataforma mapeou
em sua base de dados que o Brasil passou de 248 healthtechs em 2018 para 1.002 em 2021. Além disso, de janeiro até dezembro de 2021, as startups receberam mais de US$ 530 milhões em investimentos, enquanto que em 2020 o volume total de investimentos do ano foi de US$ 127, 8 milhões. A plataforma ainda assinala algumas tendências e evoluções relevantes que devem ser observadas:
5.1. Pacientes mais informados e mais exigentes
Cada vez mais, o público está desejando ter autonomia sobre a própria saúde. Somado a isso, existe a onda de produtos e serviços de saúde em domicílio, seja para cuidados primários, gerenciamento de doenças crônicas ou cuidados paliativos e de longo prazo, e ainda na crescente das comunidades online e sites de comparação (de médicos, hospitais e produtos farmacêuticos). Isso forçou todos os elos da cadeia a se concentrarem ativamente na experiência do cliente (CX), a qual tem se tornado prioridade.
5.1.1 Uso da nuvem no setor da saúde.
Plataformas em nuvem facilitam a interoperabilidade, a integração de dados em todo o sistema de saúde, a aplicação da análise de Big Data e dos algoritmos de
inteligência artificial e a colaboração entre médicos e pacientes, democratizando os dados e promovendo ferramentas para a educação e o envolvimento do paciente.
5.1.2 Ciência de dados e análise preditiva
Ciência de dados e análise preditiva tornaram possível para os profissionais de saúde buscarem insights mais profundos. Informações coletadas dos históricos de
ascendência e família ou obtidos de fontes relativas ao ambiente circundante, em sistemas baseados em IA, podem prover insights poderosos para diagnosticar
problemas mais rapidamente.
5.1.3 Robótica
Os engenheiros de robótica desenvolvem assistentes médicos, roupas de reabilitação e até unidades cirúrgicas. Os robôs também são projetados para serem
capazes de realizar tarefas repetitivas e monótonas, para que a equipe humana possa lidar com questões que exigem habilidades de tomada de decisão, criatividade e, acima de tudo, cuidado e empatia.
5.1.4 Nova fase da telemedicina
A telemedicina teve grande destaque no primeiro ano de pandemia e também em 2021. Médicos e pacientes aprenderam a lidar com essa facilidade que só cresceu nesse período turbulento. A tendência é que a utilização de teleconsultas, principalmente, se estabilize como atividade cotidiana em um caráter complementar.
5.1.5 Inteligência Artificial (IA)
IA é uma coleção de tecnologias avançadas que permite às máquinas descobrirem, compreenderem, raciocinarem, agirem e aprenderem. Além disso, usa
uma variedade de algoritmos e ferramentas para realizar, por exemplo, machine learning (ou ‘aprendizado de máquina’). O desenvolvimento de novas tecnologias, aliado à necessidade de melhorar a precisão dos diagnósticos e tratamentos, está contribuindo para a evolução desse mercado no mundo todo. Só em 2021, foram investidos mais de US$ 41 milhões em startups de inteligência artificial no Brasil.
5.1.6 Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR)
No setor de saúde, as aplicações de AR e VR têm sido utilizadas para tratar doenças físicas e psicológicas. Já vemos ferramentas de reabilitação desenvolvidas
para ajudar pacientes a se recuperar de um derrame e deficiências corporais com o uso óculos de realidade virtual.
5.1.7 Tech e mercado tradicional
Planos de saúde digitais, softwares de gestão e prontuário, além de IA & Big data foram os segmentos que mais receberam aporte de capital de risco no ano de
2021. Atenção primária, serviços para corporações e modelos value-based são alguns dos focos inovadores dessas startups.
5.1.8 LGPD e segurança de dados
A partir de agosto de 2021, a LGPD passou a valer mais vigorosamente para aqueles que não estivessem enquadrados no novo regimento, o que implicou em
adaptações das empresas em diversos setores. Além da adequação dos sistemas à LGPD, outra importante prioridade é a sofisticação da segurança dos dados com a aplicação de tecnologias de ponta.
Já em relatório elaborado pela PwC e a Liga Ventures, a partir dos dados da ferramenta Startup Scanner, que permite monitorar constantemente startups de diversos setores, apresenta-se um retrato do mercado de saúde e os desafios das healthtechs, além de reflexões sobre os novos hábitos, o futuro da saúde e as transformações que a tecnologia, a inovação e a inteligência artificial tendem a oferecer.
O mapa das startups que atuam no mercado de saúde, conforme dados colhidos até março de 2022, mostra que havia 397 startups ativas na base de dados e
sendo monitoradas.
Durante o período analisado, houve um aumento de 32% no número de startups no radar da Startup Scanner, incluindo novas startups nascidas e novas
monitoradas, independentemente de estarem ativas ou não.
As startups ativas na base durante o período analisado tiveram um crescimento médio de 21,21% no número de funcionários, representando um total de 3.813 novas vagas abertas durante o período. Além disso, 17,38% das startups tiveram um crescimento no número de funcionários superior a 50%, com base em Análise de acompanhamento do número de funcionários das startups mapeadas no Linkedin, entre março de 2021 e março de 2022.
Da análise dos dados do mapeamento, algumas conclusões são apontadas:
6 Mercado em expansão
O número de healthtechs ativas cresceu nos estados 13,7%, em média, entre o período de 2019 a 2021. São Paulo concentra o maior número dessas empresas
(50,13% do total de startups ativas no setor), mas os estados com maior crescimento relativo em número de startups ativas entre 2019 e 2021 foram Espírito Santo (80%), Pará (50%) e Rio Grande do Norte (50%). Esse fato mostra que os empreendedores estão explorando oportunidades para melhorar a vida dos brasileiros menos assistidos e com acesso reduzido a serviços de saúde.
6.1 Categorias em destaque: analisando as categorias de startups, é perceptível que a de planos e financiamentos foi a que mais se desenvolveu, o que
indica uma tendência do setor de buscar soluções para cuidar da orquestração entre todos os players da saúde. Outro segmento que apresentou desenvolvimento
importante foi o de meio de pagamento, que está diretamente ligado a glosas e outras questões que impactam as atividades diárias das organizações. Também tiveram grande investimento e atividade de M&A as categorias de psicologia e bem-estar físico e mental, que registraram maior demanda devido às consequências da pandemia sobre as relações humanas e as emoções dos indivíduos.
6.2 Tecnologia para otimizar a experiência do paciente: A evolução tecnológica também é um fator importante. O maior crescimento foi de plataformas
digitais, seguido por análise preditiva e inteligência artificial, o que revela um foco em melhorar a experiência do paciente. A tecnologia tem papel fundamental nesse processo e também em relação à proteção de dados e à segurança cibernética.
Já com base em dados de dezembro de 2022, se observa que há 571 startups de saúde – healthtechs – na base de dados, de uma base total de 5.576 startups,
distribuídas em 35 categorias e atuando em 112 cidades diferentes.
Conforme o relatório citado anteriormente já assinalava, aparecem em número mais significativo as startups concentradas em atividades com buscadores e
agendamentos (40), bem estar físico e mental (37) e planos e financiamentos (34). Contudo, dentre as 35 categorias também são relevantes numericamente entre as demais aquelas que desenvolvem atividades em:
6.2.1 Infraestrutura para Telemedicina (26): com foco em soluções estruturais que viabilizam e promovem o acesso e oferta de consultas de forma remota;
6.2.2 Novos Medicamentos e Tratamentos (22): foco em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos, tratamentos e aplicação de componentes
com potencial de utilização médica;
6.2.3 Capacitação, Informação e Educação (20): foco em soluções que promovem a disseminação de conteúdos e conhecimento e startups com foco no
processo de educação médica;
6.2.4 Seniortechs (18): foco em soluções tecnológicas com foco voltado para o bem-estar, oferta de serviços e acompanhamento da saúde dos idosos;
6.2.5 Prontuário, Prescrição e Triagem (17): foco em soluções voltadas ao aprimoramento e digitalização de prontuários, prescrições e processos de triagem;
6.2.6 Desenvolvimento de Equipamentos e Dispositivos (16): em soluções voltadas à pesquisa e desenvolvimento de equipamentos e dispositivos com aplicações
no segmento de saúde.
7 TRANSFORMAÇÕES NA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
Conforme já observado, a pandemia de covid-19 alterou e acelerou o processo de transformação digital em todos os segmentos da economia. A transformação digital chegou de vez, promovendo transformações radicais que impactam tanto a esfera pública, como a privada.
A liberação da telemedicina e o uso de IA, a constituição e fortalecimento do Programa Conecte SUS e da Rede Nacional de Dados em Saúde, dispondo sobre a
adoção de padrões de interoperabilidade em saúde no Brasil, são marcas deste movimento na saúde pública, por exemplo, também aceleradas pela pandemia.
Estas iniciativas são parte da Estratégia Nacional de Saúde Digital (ESD). Saúde Digital compreende o uso de recursos de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) para produzir e disponibilizar informações confiáveis sobre o estado de saúde para os cidadãos, profissionais de saúde e gestores públicos. O termo Saúde Digital incorpora os recentes avanços na tecnologia, como novos conceitos, aplicações de redes sociais, Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA), entre outros.
A estratégia nacional de saúde digital está integrada a esforços da Organização Mundial de Saúde para constituição de uma Estratégia Global de Saúde Digital (Global Strategy on Digital Health), com o objetivo de promover a saúde para todos, em todos os lugares. Um aspecto significativo da proposta de Estratégia Global é que ela unifica, sob o termo Saúde Digital, todos os conceitos de aplicação das TICs em Saúde, incluindo e-Saúde, Telemedicina, Telessaúde e Saúde Móvel. Além de reduzir a fragmentação das aplicações da tecnologia em saúde, a Saúde Digital se caracteriza como área de conhecimento e prática, e absorve os conceitos da utilização avançada da tecnologia, incluindo o uso de dispositivos pessoais e de tecnologias emergentes.
Conforme propõe o Pacote de Ferramentas da Estratégia Nacional de e-Saúde (National eHealth Strategy Toolkit), elaborado pela OMS em conjunto com a União
Internacional das Telecomunicações (OMS/UIT) em 2012, a construção da Estratégia de Saúde Digital (ESD) deve ser desenvolvida com o objetivo de utilizar recursos de TIC para resolver problemas do sistema de saúde, tendo o planejamento do sistema de saúde como norte.
Publicado em 2017, a Visão Estratégica apresentada no documento Estratégia e-Saúde para o Brasil, declara que: “até 2020, a e-Saúde estará incorporada ao SUS como uma dimensão fundamental, sendo reconhecida como estratégia de melhoria consistente dos serviços de Saúde por meio da disponibilização e uso de informação abrangente, precisa e segura que agilize e melhore a qualidade da atenção e dos processos de Saúde, nas três esferas de governo e no setor privado, beneficiando pacientes, cidadãos, profissionais, gestores e organizações de saúde”.
O Plano de ação da Estratégia Brasileira de Saúde Digital (ESD) propõe as seguintes prioridades, conforme ilustrado:
Assim, com a missão de materializar a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil, constitui-se o Conecte SUS, como programa do Ministério da Saúde, que visa o apoio à informatização nos diversos pontos da Rede de Atenção à Saúde e a troca de informação entre os estabelecimentos de saúde e os cidadãos. Dois projetos principais integram o Conecte SUS, além de outras iniciativas rumo à transformação digital na saúde pública:
7.1 Rede Nacional de Dados em Saúde – RNDS
A Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) é a plataforma nacional de interoperabilidade (troca de dados) em saúde, instituída pela Portaria GM/MS nº 1.434, de 28 de maio de 2020. A RNDS é um projeto estruturante do Conecte SUS, voltado para a transformação digital da saúde no país. O projeto da RNDS tem o objetivo de permitir que os estabelecimentos assistenciais de saúde, públicos e privados, os profissionais de saúde e os cidadãos compartilhem informações de saúde, promovendo a prevenção, promoção e o atendimento de saúde com mais qualidade. Além disso, ele visa dispor da continuidade do cuidado em diferentes níveis de atenção.
Pela visão estratégica definida para a RNDS, “até 2028 a RNDS estará estabelecida e reconhecida como a plataforma digital de inovação, informação e
serviços de saúde para todo o Brasil, em benefício de usuários, cidadãos, pacientes, comunidades, gestores, profissionais e organizações de saúde”.
7.2 Programa de Apoio à Informatização e Qualificação dos Dados da Atenção Primária à Saúde.
O Informatiza APS faz parte da estratégia de saúde digital do Ministério da Saúde, o Conecte SUS. O programa visa apoiar a informatização das unidades de saúde e a qualificação dos dados da Atenção Primária à Saúde de todo o país. O investimento na tecnologia da informação visa subsidiar a gestão dos serviços de saúde e a melhoria da clínica.
8 Outras iniciativas
A implementação da estratégia de saúde digital e do programa Conecte SUS também tem produzido um conjunto de soluções e serviços para o cidadão e os
profissionais de saúde, como, por exemplo, aplicativos mobile:
Os aplicativos desenvolvidos e disponíveis abrangem uma vasta gama de temas, tais como, entre tantos:
InvestSus – para acompanhamento e controle das propostas e repasses financeiros realizados pelo Fundo Nacional de Saúde;
Diário da Gravidez – Plataforma digital para acompanhar e registrar todas as fases da gravidez da mulher;
Meu digiSUS – plataforma móvel de serviços digitais oficial do Ministério da Saúde. Disponibiliza para o usuário informações pessoais e clínicas contidas no
Cadastro Nacional de Usuário do Sistema Único de Saúde (CADSUS), Portal do Cidadão, Corporativo e Cadastro nacional de estabelecimento de Saúde (CNES);
e-Vee – Aplicativo móvel multiplataforma que possibilita aos agentes de saúde para que atuem no trabalho de prevenção do Aedes aegypti;
Horus – Permite ao cidadão acompanhar a dispensação de medicamentos. Permite que os cidadãos tenham acesso a informações sobre o histórico de
medicamentos recebidos e os próximos a serem retirados nas unidades do Programa Farmácia Popular e unidades de saúde do SUS.
9 Iniciativas em Santo André e Grande ABC
Na região do ABC, durante o período da pandemia também se intensificaram esforços na implementação de soluções deste tipo, com a aceleração da transformação digital na saúde pela implementação de plataformas de telemedicina e aplicativos móbile, por exemplo.
É o caso da Ferramenta COVIData, um aplicativo desenvolvido na Universidade Federal do ABC (UFABC), para acompanhamento da covid-19 nas sete cidades da região. O COVIData foi idealizado com o objetivo de otimizar o processo de triagem dos casos de covid-19. Por meio de um questionário disponível no aplicativo, foi possível coletar informações como sintomas de saúde do cidadão e sua localização, entre outras, para a análise doença na região. Adicionalmente, o cadastro na plataforma permitia o monitoramento continuado dos pacientes. Desta forma, a ferramenta permitiu realizar um monitoramento da localização geográfica da dispersão de casos na região, possibilitando identificar os locais com maior concentração de casos nas sete cidades, e assim antecipar ações e otimizar o uso dos recursos de saúde, especialmente os hospitalares.
Outras ferramentas tecnológicas também apoiaram o enfrentamento da pandemia e a mitigação de seus impactos junto à população.
Em Santo André, por exemplo, a Secretaria Municipal de Saúde implantou Centrais de Visita Virtual nos hospitais de campanha. A ação foi mais uma iniciativa de humanização do atendimento, possibilitando a familiares que não têm acesso à internet conversarem com os pacientes internados por meio de videochamada.
A ‘Central de Visitas Virtuais’ foi um projeto pioneiro, implementado junto à Prefeitura de Santo André pela Tec Mobile Brasil, empresa especializada em Hardware as a Service, localizada em Santo André. O projeto se tornou referência para as cidades do Brasil, ganhando destaque também na mídia internacional.
Vale destacar também o uso de plataformas desenvolvidas para monitoramento do isolamento social na pandemia. Com o objetivo de melhorar a tomada de decisões, para que as medidas de combate a pandemia tomadas pela administração fossem cada vez mais assertivas, a Prefeitura de Santo André realizou duas parcerias para medir o índice de isolamento social na cidade. Os indicadores apresentados em uma plataforma digital auxiliaram a administração na definição de ações de combate ao coronavírus e na avaliação sobre o cumprimento das regras da quarentena.
Uma das parcerias foi firmada com a ABR Telecom (Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações), que tem entre suas associadas operadoras como Tim, Vivo, Claro e Oi, e permitiu analisar informações sobre o deslocamento de celulares, formando uma compilação de dados que permitiu medir o isolamento da população.
A segunda parceria foi realizada com a startup In Loco. A startup oferece soluções de autenticação e publicidade mobile baseadas na privacidade dos usuários.
A In Loco utilizou os dados agregados de localização de mais de 60 milhões de dispositivos móveis para mapear índices de isolamento social em diversas cidades e regiões do Brasil. Com base em dados anonimizados gerados por mais de 100 aplicativos de delivery, varejo e bancos, por exemplo, a startup criava “mapas” de
isolamento, monitorando os deslocamentos. A plataforma da In Loco recebe informações de localização para fins de segurança e combate a fraudes.
A tecnologia ainda foi uma aliada da Prefeitura de Santo André no combate ao novo coronavírus também por meio de outras ferramentas. O município disponibilizou para download o aplicativo Qualisaúde Santo André, onde o munícipe informava sobre sintomas, recebia orientações sobre como se proteger do vírus e como proceder em caso de suspeita de contaminação.
Desenvolvido sem custo para a prefeitura de Santo André pela Eicon, empresa fornecedora de sistemas para a administração municipal, o app Qualisaúde utilizava inteligência artificial e telemedicina para classificação, pré-atendimento, identificação e mapeamento em tempo real de casos suspeitos. O georreferenciamento presente na solução informava, em tempo real, para uma central de inteligência e monitoramento ligada às secretarias de saúde e órgãos de controle, o local e a identidade dos casos suspeitos, traçando um mapa de calor das ocorrências. A estratégia possibilitou a elaboração de planos de contingência e a preparação da rede.
Já em São Caetano do Sul, parceria da Prefeitura com a USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) projetou a implantação de sistema integrado de
telemedicina por imagem na rede municipal, mediante a aquisição de consoles de telemedicina, equipados com câmeras de alta resolução, otoscopia, dermatoscopia, telerradiologia, estetoscopia digital e outros aparelhos de diagnóstico por imagem.
Agora, no âmbito do contrato gerenciado pela Fundação do ABC, desde que o Núcleo Municipal de Telemedicina foi implantado no segundo semestre de 2022, já foram realizados milhares de atendimentos e mais evoluções nos serviços da Telemedicina deverão ser implementados, por meio de tecnologia que possibilita
exames físicos à distância e melhor monitoramento dos pacientes. Novos dispositivos estão sendo integrados ao programa, permitindo coletar exames de forma remota, auxiliando no diagnóstico dos médicos que atendem à distância.
9.1 Olhando para frente
Por todas as tendências e indicadores assinalados para o setor privado, tanto considerando o relatório da Capgemini, quanto os dados da Distrito ou da Liga
Ventures, percebe-se que a presença de startups de saúde cresce em todo o território nacional e é um exemplo claro da importância desse novo tipo de empresa. Estando em constante evolução e crescimento, o setor de saúde apresenta diversas oportunidades de desenvolvimento tecnológico com foco em inovação. A evolução deste segmento tende a ser cada vez mais fundamental e cada vez mais marcante, para transformar a qualidade dos serviços de saúde e melhorar a vida dos pacientes.
Do ponto de vista da saúde pública, adicionalmente ao apontado no início deste boletim, e fortalecendo os dados sobre o contexto brasileiro e os grandes
desafios a superar, recente publicação da FAPESP informa que “em 2021, as despesas do governo brasileiro com saúde corresponderam a 3,93% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, enquanto Estados Unidos, Alemanha e França, por exemplo, realizaram gastos de 15,95%, 11,02% e 10,34% de seus PIBs, respectivamente (Our World in Data, 2022)”. Por outro lado, “as despesas das famílias com saúde no Brasil, em 2019, também estão na contramão quando comparadas às de outros países da OCDE. O Brasil (famílias) gastou 5,8% de seu PIB, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a média despendida pelos membros da OCDE foi de 2,3%. Esses dados mostram que a população brasileira está mal atendida pela saúde pública, o que a leva a mais despesas com medicamentos e serviços na rede particular”. Estas distorções foram ainda mais acentuadas pela pandemia de covid19.
A mesma publicação da aponta que a falta de articulação e de uma agenda de Estado tem limitado o alcance das políticas públicas, econômicas e de saúde no Brasil. As questões relacionadas à saúde cresceram em relevância e a população brasileira parece reconhecer hoje, mais do que nunca, em razão da pandemia do covid-19, que os investimentos em ciência e tecnologia são indispensáveis à promoção, recuperação e conservação da saúde da população.
Neste sentido, em 2018, o Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit), da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde (SCTIE), em conjunto com as demais áreas técnicas do Ministério da Saúde (MS), elaborou a Agenda de Prioridades de Pesquisa do Ministério da Saúde. Com 172 linhas de pesquisa, distribuídas em 14 eixos temáticos, o documento buscou alinhar as prioridades de saúde com as atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, para direcionar os investimentos em temas de pesquisas estratégicos para o SUS.
Em sua maioria, os eixos temáticos atendem às questões e necessidades imediatas, sem atenção às demandas decorrentes do desenvolvimento atual e futuro
da ciência. Cabe às agências e fundações de fomento à pesquisa reservarem um olhar profundo para as necessidades do sistema público em relação às inovações e aos avanços científicos em saúde. “É preciso criar agenda de temas de pesquisa que preencha as lacunas atuais e, ao mesmo tempo, fortaleça a competitividade do país, para que este atenda às demandas e aos desafios futuros” . E para tornar efetivo e acelerar o acesso a essas tecnologias, ainda é necessário também promover o acesso a estruturas de pesquisa clínica, a ambientes de fabricação piloto certificados em BPF (Boas Práticas de Fabricação) e ao suporte regulatório, visto que até mesmo softwares com aplicação terapêutica e voltados à área médica serão objeto de aprovação junto à Anvisa.
Entre outras questões, torna-se evidente que o investimento em ciência, tecnologia e inovação é indispensável para a qualidade dos serviços e a preservação da
saúde da população, sendo imperativo que se destinem os esforços necessários ao desenvolvimento de inovação e ao impulso à transformação digital, não só na saúde pública, como também no setor privado. Isto implica, inclusive, a necessidade de contemplar o fortalecimento das estruturas de suporte ao empreendedorismo e tecnologias voltadas à saúde.
Assim, “A pesquisa científica, tecnológica e inovadora em saúde é essencial à inclusão de novos conhecimentos e tecnologias para o fortalecimento do SUS”, e a promoção do acesso aos serviços de saúde pela população.