*Texto retirado do “Boletim Econômico n 11/2023 – agosto”, da Prefeitura de Santo André
O setor de logística na economia é composto pelas atividades de transporte, armazenamento, movimentação e entrega de produtos ou serviços. O setor ganhou notoriedade com a implantação dos sistemas que passaram a priorizar a redução dos estoques nos sistemas de produção a partir da década de 1990, o que exigiu maior agilidade e organização na relação entre fornecedores e demandantes das cadeias de produção, ampliando a importância do setor para a atividade produtiva.
Segundo as contas nacionais da década de 2010, abertas por setor da economia, o setor de transporte, armazenagem e correio respondeu por 4,4% do PIB da economia nacional o período.
No mesmo período analisado, o setor de logística representou em média 6,1% do PIB do Setor de Serviços, com uma regressão no ano de 2016, dado o efeito da retração econômica do período, e no ano de 2020, por conta do efeito da pandemia. Ainda não há dados detalhados por setor posteriores a 2020 nas contas nacionais divulgadas pelo IBGE.
O volume de emprego no setor reflete os efeitos da retração econômica no biênio 2015/16. O total de empregos reduziu de 2.524 mil para 2.343 mil em 2016, redução de pouco mais de 7%. O setor não retomou o volume de empregos formais nos últimos anos, tendo o ano de 2021 recuperado o volume de empregos pré-pandemia. Em 2021, os empregos no setor representaram 13,1% dos empregos gerados no setor de serviços no Brasil, 1,6 ponto percentual abaixo do que em 2010.
No Grande ABC, os empregos no setor representaram 13,5% dos empregos no setor de serviços da região em 2021.
Ao longo da última década o setor revelou maior nível de emprego na região, apresentando, em 2012, com 53.859 empregos formais. A partir deste ano até 2018 o setor revelou perda de postos formais de trabalho, quando empregou 40.741 pessoas, tendo recuperado pouco mais de 4.600 postos formais de trabalho até 2021.
Ao decompor o volume de emprego por sub setor atrelado ao setor de logística, a tabela anterior revela que 70 % dos empregos formais estão alocados nos sub setores de Transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudanças (37%), transporte rodoviário coletivo de passageiros intermunicipal e municipal (16%), organização logística (8%), carga e descarga (6%) e transporte rodoviário de produtos perigosos (4,7%). Estes mesmos setores respondem também por cerca de 70% da massa de salários gerados no setor logístico no mercado formal de trabalho da região.
Ao longo de 2021 a massa de salários médios pagos no setor foi de R$118,3 milhões ao mês, com uma remuneração média de R$2.607 mensais. Do total de empregados, 66% receberam uma remuneração média maior que a do setor, influenciado pela remuneração dos setores de Transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudanças, transporte rodoviário coletivo de passageiros, intermunicipal e municipal, que representam mais de 53% dos empregos no setor na região.
Não há na região indicadores sobre o desempenho econômico desagregado por sub setores, não havendo uma informação concreta sobre o valor adicionado gerado pelo setor de logística local. Contudo, o setor é responsável por cerca de 14% dos empregos formais no setor de serviços da região, e por 13,5% da massa de salários, com pouca variação na série temporal da última década. Ao longo desta, o salário do setor de logística na região se mostrou, em média, 3% menor comparado ao nacional.
Se o setor de logística vem se mostrando responsável por pouco mais de 4% do PIB nos últimos dez anos, na região do Grande ABC, e apesar do setor de serviços ter um peso um pouco menor na composição do PIB em comparação à esfera nacional, é plausível supor, sem superestimar, que o setor de logística tem sido responsável por algo em torno de 3,5% a 4% do PIB regional.
Em Santo André, o setor de logística é responsável por pouco mais de 7% dos empregos no setor de serviços, com um sutil crescimento após 2016, e 6,6% da massa de renda. Tendo como referência as informações do mercado formal de trabalho, a representatividade do setor de logística na economia é de aproximadamente metade da representatividade observada no Grande ABC, o que não significa que esta se replique integralmente na geração de valor adicionado.
Entre os sub setores que mais geram empregos formais no segmento de logística estão o transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudanças (18%), estacionamento de veículos (15,6%), Transporte rodoviário coletivo de passageiros (15,1%), atividades auxiliares dos transportes aéreos (9,9%), carga e descarga (8%) e atividades de correio (8%), representando 74% dos 6.756 empregos em logística.
A massa salarial paga segue distribuição semelhante. A principal exceção é o sub setor de atividades de correio, responsável por 14,7% do volume de salários pagos no mercado formal de trabalho em logística no município. A renda média paga neste foi de R$4.862 mensais em 2021, atrás apenas do sub setor de atividades auxiliares dos transportes terrestres, cuja renda média foi de R$6.377, mas responsável por apenas 0,6% da massa de renda paga. O setor de logística pagou remuneração média de R$2.590 mensais.
As atividades de logísticas registraram pouco mais e 10 mil pessoas formalmente empregadas em Santo André em 2013, segundo dados da RAIS. Nos anos seguintes, até 2017, o volume de empregos reduziu aproximadamente 33%, comparativamente a 2012, dado o efeito da retração econômica ocorridas no mesmo período.
Nos anos seguintes, apesar da pandemia, a diminuição dos empregos no setor desacelerou seu ritmo, com leve acréscimo em 2021, frente a 2020.
Embora não se tenha indicadores ou proxys confiáveis para estimar o valor adicionado gerado pelo setor neste intervalo, a trajetória do mercado de trabalho nos últimos 10 anos sugere uma ocorrência de retração. É importante ressaltar que o volume de empregos também se retraiu tanto em nível nacional quanto na Região do Grande ABC, no mesmo intervalo.
Para além das flutuações macroeconômicas, com reflexos na região, assim como os deslocamentos da atividade produtiva, os fatores de infraestrutura que afetam a eficiência do setor na região, comparativamente a outras próximas, também impactam sobre o desempenho do setor.
Logística em Santo André e o seu papel estratégico para a competitividade na indústria e qualidade de vida no Grande ABC
A logística tem papel estratégico para a competitividade da indústria e na qualidade dos serviços prestados aos cidadãos de Santo André e região. Região com a atividade industrial proeminente e acima da média do país e reconhecidamente como uma das melhores cidades para se criar filhos, tem-se na manutenção da capacidade de movimentar bens, serviços e pessoas um fator estratégico para a sustentação do seu crescimento e desenvolvimento econômico e social. Sem uma logística eficiente a indústria perde competitividade e diminui sua capacidade de inovação e de diferenciação no mercado. A evolução e agilidade na prestação de serviços que vêm sendo possível com a transformação digital acelerada pela pandemia estabeleceu novo padrão de entrega de bens e serviços. Essa nova realidade de receber bens e serviços de forma cada vez mais instantânea e com tempos de entrega inferior a 24 horas impõe a necessidade de investimentos e preparação para se manter e conquistar espaço no setor. Como ponto de atenção e desafios a região tem no adensamento populacional e mobilidade seus maiores desafios para o futuro próximo.
Com a oportunidade da redefinição das cadeias globais de valor, a região tem a possibilidade de fortalecer sua indústria já desenvolvida a prover bens e serviços em todo o país de forma rápida e eficiente a partir de uma logística competente. A região também pode fortalecer e intensificar sua atividade exportadora dada a facilidade de escoamento de sua produção a partir dos mais variados modais disponíveis aqui na região.
Podemos destacar também o fato de Santo André e região fazerem parte da maior região metropolitana do país e o maior mercado consumidor da América Latina. Contando ainda com o acesso a recursos humanos especializados e capazes para a evolução que as novas tecnologias têm por habilitar.
Esses destaques têm sido reconhecidos e se traduzem na atração de investimentos públicos e privados e na presença de grandes atores globais do setor aqui na região como a DHL, CEVA, Wilson Sons, Tegma dentre outros.
Outro fato relevante é o volume de investimentos recentes que o complexo da Avenida dos Estados e o entorno do eixo Tamanduateí já recebeu e está implementando: mais de R$ 1 bilhão de reais.
Com destaque para os investimentos de grande porte realizados pela Coca-Cola Femsa R$100milhões (2021), mais de R$300 milhões pela MBigucci em 110mil m2 condomínio logístico Business Park (2022), R$78 milhões de revitalização da avenida dos estados (Prefeitura de Santo André e Governo de São Paulo) – esses já em operação e mais de R$400 milhões em condomínio logístico em mais de 158 mil m2 pela multinacional Goodman e R$146 milhões pela prefeitura de Santo na transformação do Complexo Viário Santa Teresinha, maior intervenção viária das últimas décadas realizada na cidade. O projeto prevê a criação de alças elevadas que vão eliminar os cruzamentos da Avenida dos Estados, além de quatro novas pontes e três novos viadutos, melhorando a fluidez do tráfego na região. Soma-se a esses esforços os investimentos de implantação do CITE, Centro de Inovação, Tecnologias e Empreendedorismo do Parque Tecnológico de Santo André de R$40 milhões e a expansão da UFABC em sua unidade Tamanduateí. Todos esses investimentos, concentrados no eixo Tamanduateí, promovem a melhoria da capacidade de movimentação de bens e pessoas e potencializam o crescimento da atividade econômica de forma consistente e estruturada em Santo André, mas com reflexo também na região. Esse esforço recente potencializa a competitividade da região no setor logístico, fortalecendo as vantagens comparativas que Santo André e região já tem:
1 – Proximidade do maior porto de cargas do Brasil, o porto de Santos;
2 – Proximidade do Rodoanel;
3 – Menos de 1 hora dos 2 maiores aeroportos do Brasil;
4 – Malha ferroviária ativa e inserida no Plano Nacional Logístico como área estratégica de integração e em expansão;
5 – Infraestrutura de suporte, formação e capacitação de recursos humanos especializados;
6 – Ecossistema de inovação em logística ativo e em fase de expansão;
7 – Investimentos públicos e privados ultrapassam R$1 bilhão de reais (3 anos).
Os investimentos recentes e o aumento de operações relacionadas ao setor logístico em Santo André e região tem a perpetuidade de seu sucesso condicionado ao investimento contínuo em infraestrutura, no desenvolvimento humano e tecnológico. Santo André e região possuem diferenciais para o desenvolvimento tecnológico do setor, e em se tratando de conectividade, até supera outras regiões do Brasil. Estamos em uma cidade que tem cobertura de 98% da população e 58% do território já com conectividade 5G (57% do território de Santo André é área de preservação e mananciais). Essa mesma área coberta por uma rede Lorawan de acesso gratuito para o desenvolvimento de soluções tecnológicas a partir de programas do Parque Tecnológico de Santo André. Esses fatores são elementos mais que favoráveis para o atendimento da demanda tecnológica das empresas no setor a partir e adoção de novas tecnologias – podemos acelerar isso contando com recursos disponíveis no Rota 2030, mais especificamente na linha 6 de conectividade. O bom momento recente tem potencial de ser ainda melhor na geração de desenvolvimento econômico e social se os elementos que o ecossistema de logística, bem representado, em Santo André e região sejam devidamente explorados. Muitas tecnologias já empregadas na região pelo setor automotivo como a robótica e a automação estão avançando rápido no setor logístico. Além dessas duas plataformas tecnológicas, a inteligência artificial, a ciência de dados potencializados pela conectividade e dispositivos baseados em Internet das coisas (IoTs) podem revolucionar a logística e constituem aliados importantes na superação de barreiras e desafios cada vez mais prementes:
1. Interrupções na cadeia de suprimentos: A pandemia de COVID-19 destacou a vulnerabilidade das cadeias de suprimentos globais, com interrupções nos canais de transporte, fabricação e distribuição, causando atrasos, escassez e aumento de preços.
2. Custos de transporte: Os custos de transporte, principalmente rodoviários e aéreos, podem ser significativos e impactar a lucratividade das empresas de logística. Preços voláteis de combustível, escassez de motoristas e conformidade regulatória também podem aumentar esses custos.
3. Sustentabilidade: O setor de logística contribui significativamente para as emissões de gases do efeito estufa, e a redução de seu impacto ambiental é uma preocupação crescente para as empresas de logística e seus clientes. Isso inclui reduzir as emissões do transporte, adotar os princípios da economia circular e reduzir o desperdício.
4. Disrupção tecnológica: Avanços em tecnologia, como automação, inteligência artificial e Internet das Coisas, estão transformando o setor de logística. Embora essas tecnologias ofereçam benefícios significativos em termos de eficiência e produtividade, elas também podem exigir investimentos significativos e apresentar desafios em termos de implementação e desenvolvimento da força de trabalho.
5. Conformidade regulatória e tributária: O setor de logística está sujeito a uma ampla gama de regulamentações e requisitos de conformidade, incluindo aqueles relacionados à segurança, proteção, alfândega, tributos e padrões ambientais. Acompanhar esses requisitos e garantir a conformidade pode ser desafiador e caro para as empresas de logística.
6. Em um futuro próximo (5 a 10 anos) veículos autônomos terão papel importante na dinâmica desse mercado. Projetos em curso aqui na região já trabalham em tecnologia nacional para veículos autônomos nível 3 (escala de 1 a 5, onde 5 é sem intervenção humana).
Como ponto atenção para o setor, há hoje na inteligência artificial (IA), visão computacional e ciência de dados maturidade tecnológica e prontidão para a rápida captura de valor. A IA tem o potencial de impactar significativamente o setor de logística, melhorando a eficiência, reduzindo custos e aumentando a satisfação do cliente. Aqui estão algumas maneiras pelas quais a IA pode impactar a economia da logística:
1. Otimização aprimorada da cadeia de suprimentos: a IA pode ajudar as empresas de logística a otimizar sua cadeia de suprimentos, prevendo a demanda e otimizando as rotas de entrega, reduzindo o tempo e os custos de entrega e melhorando a eficiência geral.
2. Gerenciamento de estoque aprimorado: os algoritmos de IA podem analisar dados históricos para prever a demanda e ajudar as empresas de logística a otimizar seu gerenciamento de estoque, reduzindo os custos associados ao excesso de estoque ou falta de estoque.
3. Experiência do cliente aprimorada: chatbots e assistentes virtuais com tecnologia de IA podem aprimorar a experiência do cliente, fornecendo suporte em tempo real e resolvendo problemas rapidamente, reduzindo a rotatividade de clientes e aumentando a fidelidade.
4. Melhor gerenciamento de riscos: a IA pode ajudar as empresas de logística a identificar e mitigar riscos na cadeia de suprimentos, como interrupções no transporte ou desastres naturais, reduzindo o potencial de perdas financeiras.
No geral, a implementação da IA na logística tem o potencial de impactar significativamente a economia do setor, reduzindo custos, melhorando a eficiência e aprimorando a experiência do cliente.