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EIXO PLÁSTICO E BORRACHA

AVALIAÇÃO SETORIAL: BORRACHA E MATERIAL PLÁSTICO

*Texto retirado do “Boletim Econômico n 06/2022 – agosto”, da Prefeitura de Santo André

Parece ser de amplo conhecimento a trajetória de queda da participação direta do setor industrial na geração do PIB brasileiro nas últimas décadas, acompanhando um movimento observado especialmente nas economias ocidentais. Contudo, é importante salientar que, enquanto no plano nacional a indústria de transformação respondeu de forma direta por pouco menos de 10% do PIB, no Grande ABC o setor respondeu por pouco mais de 23%. Especificamente em Santo André, o mesmo respondeu por cerca de 20% do PIB, considerando o indicador do PIB municipal mais atualizado, referente ao ano de 2019, divulgado no final de 2021.

A carta 1096 do Instituto de Desenvolvimento Industrial (IEDI) faz referência ao artigo do economista Tiago Moreira, professor do IBMEC/RJ e do Instituto de Economia da UFRJ referente aos efeitos multiplicadores setoriais para a economia Brasileira1.

Em que pese a maior participação direta do setor de serviços na composição do PIB brasileiro, o prof. Moreira aponta que “quando tratamos dos efeitos multiplicadores, o panorama é bastante distinto, pois… apesar da predominância no PIB, verifica-se que o setor de serviços tem “baixo poder”. O prof. Moreira complementa “na análise dos multiplicadores de produção, o grupo de atividades que de longe mais se destaca é a indústria de transformação”.

Os efeitos multiplicadores decorrem pelo fato de que cada setor econômico, para desenvolver sua atividade, necessita adquirir insumos provenientes de outras atividades, que, por sua vez, também requerem insumos para suas atividades, e assim sucessivamente. A avaliação dos efeitos multiplicadores se dá pela estimativa dos fluxos dos insumos e matérias-primas na composição das diversas cadeias produtivas. O quadro a seguir aponta as estimativas do efeito multiplicador dos setores realizados pelo professor Moreira para os anos recentes.

Em geral, analisa-se o processo de desindustrialização observando quase que exclusivamente a participação direta do setor no PIB, inclusive no Grande ABC. Por ser uma região economicamente estruturada em torno da atividade industrial, sentiu com maior intensidade as alterações na composição do tecido produtivo, com queda da participação direta do setor industrial.

Contudo, a análise deve também considerar os efeitos da atividade industrial a partir da sua capacidade de transbordamento para outras atividades movimentadas por demanda derivada.

Embora as estimativas realizadas observem a economia nacional, é plausível considerar a hipótese de que a indústria de transformação regional tenha efeitos semelhantes, ainda que sofra consequências mais intensas das relações econômicas inter-regionais. Seguindo esta linha de raciocínio, se a participação direta da indústria no GABC é de 23% do PIB, não seria superestimado julgar que algo entre 45% e 40% do PIB local esteja vinculado, diretamente ou indiretamente, à atividade da indústria de transformação. Em Santo André, onde a participação direta da indústria de transformação respondeu por cerca de 20% do PIB, tomando como referência a mesma linha de análise, entre 36% e 40 % do PIB local tende a estar vinculado à cadeia produtiva da indústria de transformação.

Na última edição do Boletim, em que foi iniciado o item sobre avaliação setorial, foi estimada a participação direta do setor químico no Grande ABC em 6% na composição do PIB Regional. Em Santo André, a estimativa realizada foi de aproximadamente 10% PIB.

Nesta edição, a avaliação setorial se volta ao setor de borracha e material plástico, que respondeu por mais de 25% do Valor de Transformação Industrial (VTI) no município de Santo André em 2017, segundo a divulgação mais atualizada realizada pelo SEADE para o indicador.

No Grande ABC, o setor de borracha e material plástico respondeu por aproximadamente 9% do VTI, considerando o ano de 2017, o que permite presumir que o setor responda, de forma direta, por cerca de 2% do PIB regional.

Pouco mais de 75% do VTI do setor se concentra em Santo André e Diadema. Em Santo André, o setor respondeu por pouco mais de 25% do VTI e em Diadema pouco menos de 19%. No município andreense, que concentra aproximadamente 50% do VTI do setor de borracha e material plástico na região, estima-se sua participação direta em pouco menos de 6% do PIB municipal.

O conjunto formado pelo setor químico, abordado na edição anterior do Boletim, e de borracha e produtos plásticos compõem pouco mais de 75% do VTI da economia andreense, equivalente a pouco mais de 15% do PIB do município.

Assim como na análise do setor químico, são utilizados dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2020 como uma “proxy” para detalhar a composição do setor, centrado em três informações: total de empregos formais diretos; soma da remuneração de salários pagos (massa salarial); e número de estabelecimentos.

Adverte-se, contudo, que não é possível correlacionar estas informações com a participação dos segmentos no PIB, tendo em vista que os setores e subsetores produtivos apresentam diferenças de produtividade, na intensidade da relação capital e trabalho empregado, entre outras especificidades. A indústria de transformação, que corresponde a 20% da economia de Santo André, é responsável por 12% dos empregos formais e 16% da massa de salários pagos no mercado de trabalho do município.

Dentro da indústria de transformação, o setor de borracha e de material plástico instalado no município responde por pouco mais de 26% dos empregos formais gerados e 30,6% da massa de salários pagos. A remuneração média paga pelo setor foi de aproximadamente R$ 4.100 (R$ de 2020) em 2020, pouco mais de 15% acima da remuneração média da indústria de transformação no município de Santo André para o mesmo ano. Comparativamente à remuneração média do mercado formal para o mesmo ano, considerando todos os setores da economia, a remuneração paga pelo setor foi cerca de 45% maior.

O subsetor de fabricação de pneumáticos e câmaras de ar respondeu por 86,4% dos empregos do setor e 91% da massa de salários pagos. O subsetor de borracha, que inclui os pneumáticos e os artefatos de borracha, respondeu por 86,8% dos empregos e 92,3% da massa de salários. Os subsetores relacionados aos materiais plásticos responderam por 13,1% dos empregos formais do setor e 7,7% doa massa de salários pagos.

Em 2021, a exportação de borracha e suas obras exportou cerca de US$ 197 milhões (FOB)2, segundo dados do Ministério da Economia, 38% maior que no ano de 2020. As exportações de material plástico e suas obras foram de US$ 55,8 milhões (FOB) em 2021, 25% maior que no ano de 2020. Na comparação entre os mesmos períodos, as exportações do município de Santo André, concentradas em bens industriais, ampliaram 35%.

O setor de borracha e plástico é o segundo mais importante da indústria de transformação de Santo André, conforme pontuado nos parágrafos anteriores.

Considerando os efeitos multiplicadores, seus efeitos de transbordamento ampliam a importância do setor na dinâmica econômica do município.

Embora o setor apresente uma concentração elevada na produção de pneumáticos ligados à cadeia automobilística, os artefatos de borracha estão presentes nos mais variados setores, desde calçados e brinquedos até o setor farmacêutico. O segmento de material plástico idem, seja em função de sua utilização na composição do produto final, nos processos de produção, bem como na fabricação de embalagens a diferentes setores.

 

EFEITO MULTIPLICADOR E “PRODUCT SPACE” PARA O SETOR DE BORRACHA E PLÁSTICO

As correlações e o efeito multiplicador mencionados na seção anterior também podem ser observados nas imagens a seguir, extraídas da plataforma Dataviva. Trata-se de uma plataforma aberta de pesquisa que permite acessar diferentes visualizações geradas a partir de dados socioeconômicos dos municípios brasileiros.

Aqui elas estão representadas na forma do “Espaço de Atividades” e do “Espaço de Produtos” para a economia de Santo André, com base no conceito de Product Space. Desenvolvido em 2007 por César Hidalgo, físico do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O conceito foi apresentado pela primeira vez no artigo “The Product Space Conditions the Development of Nations”, escrito por Hidalgo, Bailey Klinger, Ricardo Hausmann e Albert-László Barabási3.

Partindo deste conceito, pode ser construído um mapeamento das atividades econômicas dos países e localidades, ajudando a entender, com base na complexidade dos produtos exportados, o processo e a evolução do desenvolvimento dos países e das localidades. A correlação entre os produtos e o cálculo das similaridades entre eles é construída a partir do conceito de Vantagem Comparativa Revelada (VCR). A VCR mede a especialização do comércio internacional de um país ou localidade em relação a uma região ou ao mundo. A partir da evolução das vantagens comparativas e de como os índices se movem na rede é possível analisar o processo de desenvolvimento, auxiliando, inclusive, na identificação de oportunidades econômicas.

Os gráficos apresentados abaixo, relativos ao Espaço de Atividades e ao Espaço de Produtos da economia de Santo André, permitem sobrepor os produtos ou as atividades nas quais Santo André possui a chamada vantagem comparativa revelada (RCA>1). Deste modo, pode-se perceber onde estão localizados os produtos ou as atividades nas quais detemos vantagem comparativa. Tais produtos/atividades se posicionam na região central da rede (mais complexos), sendo possível, inclusive, conhecer suas conexões.

Já no caso dos gráficos abaixo, correspondentes a gráficos de Dispersão, é possível visualizar de forma comparativa a distribuição das atividades econômicas e exportações de uma localidade a partir da relação entre duas variáveis (uma no eixo x e outra no eixo y). Esse gráfico facilita a análise e definição das atividades e produtos mais interessantes para o desenvolvimento econômico de uma região ou localidade ao colocar juntos dois indicadores da teoria do Product Space. Os produtos com maior complexidade e menor distância estarão localizados no mesmo quadrante do gráfico e seriam aqueles, em princípio, com maior potencial para a localidade analisada. É o caso do segmento de plásticos e borracha, conforme o gráfico abaixo permite inferir.

Os cálculos foram realizados utilizando as informações dos anos de 2015 e 2017, dada a necessidade de consolidação dos mesmos, o que não invalida, contudo, os resultados obtidos, pois a análise das inter-relações econômicas e suas vantagens comparativas estão atreladas a fatores estruturais.

Assim, nos gráficos anteriormente apresentados, deve-se considerar que, a despeito dos dados que deram origem às visualizações tratarem de dados relativos aos anos de 2015 e 2017, eles representam fenômenos que indicam inter-relações que permanecem ativas e coerentes com o que se pode ainda observar pelo tratamento de dados atualizados, por outras metodologias e ferramentas.

Importante ressaltar que, com base na teoria do Product Space, uma região deve mover (conquistar vantagem comparativa) para produtos ou atividades localizados no centro da rede a partir daqueles produtos ou atividades nos quais já possui vantagem comparativa.

Assim, de modo suscinto, podemos dizer que os gráficos corroboram a centralidade da indústria de transformação, bem como do setor de Plásticos e Borracha na economia local e a pertinência da atuação da política municipal de desenvolvimento. De modo geral, a atuação da política municipal de desenvolvimento está pautada em três pilares, quais sejam melhorar o ambiente de negócios, fazer com que as empresas melhorem sua competitividade e investir em inovação e qualificação da mão de obra junto a este segmento, especialmente, considerando a atuação do Parque Tecnológico de Santo André.

Tanto o setor de plástico como o de borracha são muito atuantes no ecossistema de inovação do Parque Tecnológico de Santo André. Ambos têm buscado na inovação o ganho de competitividade e crescimento, e fazem parte do HUB de Inovação Aberta do Parque Tecnológico. Representantes desses setores têm promovido desafios de inovação aberta e ampliado investimentos e esforços para o desenvolvimento de produtos inovadores e processos mais eficientes e sustentáveis. Vêm se destacando como tendências a adoção e o crescimento de uso de matérias-primas, insumos e energia de fontes renováveis em substituição aos de origem fóssil. Outro destaque são as práticas maduras de economia circular e logística reversa no setor da borracha e em fase de expansão no setor plástico.

Como sinal do impacto destas iniciativas da política municipal de desenvolvimento e do momento positivo do setor em Santo André, podem ser mencionados os recentes anúncios de investimentos realizados por uma das importantes empresas do segmento de borracha e plástico instaladas em nossa cidade.

A Prometeon Type Group, antiga Pirelli, informou a previsão de investimentos da ordem de R$ 60 milhões na unidade de Santo André. A maior parte deste montante, cerca de R$ 55 milhões, será direcionada para a compra de equipamentos e para a contratação de novos colaboradores. Com isso, a empresa planeja ampliar em 20% a produção de pneus Agro Radial, buscando atender à crescente demanda do mercado agro. Cabe destacar que o coração das operações globais da Prometeon no mercado agro está na planta industrial de Santo André.

O restante dos investimentos foi direcionado para um novo Test Center Latam, um Laboratório Indoor que está localizado dentro da fábrica de Santo André. Ainda no fim de 2021, a fabricante investiu R$ 5,2 milhões na área e o novo investimento de cerca de R$ 6,5 milhões aumentará a área do laboratório para 3.200 metros quadrados com estrutura atualizada, que inclui equipamentos diversos e novos maquinários, reforçando o desenvolvimento de novos produtos.

A Prometeon foi a primeira a participar do Parque Tecnológico de Santo André, além de ter sido o primeiro grande grupo a ter acesso à lei de incentivos tributários da cidade. Os benefícios tributários, concedidos em razão do projeto de investimento apresentado pela empresa e pela aplicação da lei municipal de incentivos, lei no 10.255/2019, permitiram à empresa receber a concessão de créditos tributários, apoiando decisivamente a realização dos investimentos já mencionados, tanto na modernização e ampliação da planta industrial instalada na cidade, quanto em seu laboratório. Tais investimentos são fundamentais para a competitividade da empresa no mercado global e a consequente competitividade e vigor da economia andreense.

Vale ressaltar que a participação da Prometeon no Hub de Inovação do Parque Tecnológico tem sido um diferencial relevante na consolidação das estratégias da empresa. No HUB de Inovação aberta do Parque Tecnológico de Santo André, a empresa pode contar com os serviços e todo o apoio do Parque Tecnológico para estabelecer parcerias com as universidades e startups da região e com o ecossistema de inovação participante de sua rede. Como resultado dessa conexão e integração de atores do Parque, foram potencializados e promovidos mais projetos e mais investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) pela empresa na planta localizada na cidade. Em especial, a atuação do Parque Tecnológico permitiu aumentar o acesso da Prometeon a fontes de fomento hoje disponíveis para ajudar as empresas a serem mais inovadoras e competitivas. Para exemplificar os resultados deste modelo, o primeiro ciclo de desafios de inovação aberta desenvolvido pelo Parque Tecnológico com a Prometeon resultou em dois projetos e mais de R$ 3,5 milhões em investimentos em PD&I captados em agências de fomento.

A primeira parte do investimento, de R$ 1,5 milhão, envolve a UFABC e sua unidade Embrapii. A outra parte do investimento, de R$ 2 milhões, foi captada junto à Finep para projetos a serem desenvolvidos em parceria com a FEI e o Instituto Mauá de Tecnologia.

Assim, com a atuação do Parque Tecnológico tem sido possível auxiliar os gestores das empresas a mitigar o risco tecnológico e financeiro inerente à atividade inovativa. Trazendo os melhores parceiros tecnológicos para mitigar o risco técnico e as fontes de fomento adequadas para também mitigar o risco financeiro da inovação, as empresas podem estabelecer uma disciplina e constância em relação aos investimentos em áreas e temas que vão garantir a competitividade de seu negócio.

Em um setor tão decisivo para o dinamismo econômico da cidade de Santo André como o setor de Borracha e Plástico, tais iniciativas da política municipal de desenvolvimento têm se revelado mecanismos importantes de fortalecimento da competitividade da economia local por meio da inovação e da consequente geração sustentável de bem estar social.